sábado, 12 de julho de 2025
CRÔNICA

O Silêncio Que Conforta

11/07/2025
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Pr. Pedro R. Artigas

Igreja Metodista

 

Na correria dos dias, colecionamos amigos como quem coleciona figurinhas: colegas de trabalho, vizinhos, seguidores, contatos salvos em grupos de WhatsApp. Cada um com seu emoji, sua figurinha personalizada, seu bom dia automático. A vida moderna nos dá a ilusão de que estamos cercados por uma multidão afetuosa. Mas há dias em que essa multidão parece evaporar, como névoa ao sol.

Certa vez, numa dessas tardes em que o coração se encolhe sem aviso, fui surpreendido por um silêncio que conforta. Não veio de um grupo animado, tampouco de curtidas em fotos ou mensagens de “força aí, amigo!”. Veio de uma voz calma, sem pressa, que me ligou só para dizer: “Tá tudo bem? Tô aqui.”

Não era alguém que falava todos os dias. Nem estava entre os “melhores amigos” do Instagram. Era alguém que sempre foi discreto. Não se fazia presente com alarde, mas com constância. E naquele momento, aquela simples presença fez mais do que todos os abraços digitais que eu havia recebido.

Provérbios 18:24: "O homem que tem muitos amigos pode congratular-se, mas há amigo mais chegado que um irmão." nos lembra que nem sempre a abundância de amizades é sinal de conexão verdadeira. O texto diz que “há amigo mais chegado que um irmão”, e esse tipo de amizade não se mede em quantidade de interações, mas em profundidade de vínculo.

Vivemos num tempo em que a palavra “amizade” ganhou contornos superficiais. Amizade virou curtida, virou seguidor, virou “ei, tamo junto!”. Mas amizade real é outra coisa. É aquela que entende seus silêncios, que aparece quando o mundo desaba, que sabe o que dizer — ou o que não dizer — nas horas difíceis.

Lembro de uma conversa com essa mesma pessoa, meses depois. Eu havia mudado de cidade, recomeçado em um lugar onde ninguém me conhecia. Era tudo novo, tudo estranho. Ela não perguntou como estavam as coisas no trabalho, nem quis saber se eu já havia feito novas amizades. Só perguntou: “E você, tá feliz aí?”

Foi a primeira vez que alguém se importava não com as conquistas que eu acumulava, mas com o coração que eu carregava.

Há amigos que aparecem em festas, que celebram com você os momentos altos. Mas o amigo mais chegado que um irmão — esse aparece na dor, no vazio, no dia em que você pensa que não é visto. Ele não precisa estar sempre presente, mas quando está, você sabe: não está só.

Talvez seja hora de rever nossa lista de amigos. Quem são os que realmente sabem o caminho até nós? Quem aparece sem serem chamados, só porque perceberam nossa ausência?

A vida se faz mais leve quando descobrimos que, mais valioso que muitos amigos, é ter alguém que caminha com a gente em silêncio, no compasso do afeto.

E você amado leitor já ligou ou falou com aquele amigo que se faz presente quando você menos espera só para te cumprimentar e perguntar como você está se sentindo? Faça isso hoje e se sinta mais reconfortado e tenha um dia mais alegre, pois se lembrou de alguém que é importante em sua vida. Shalom.