MÚSICO E FUNCIONÁRIO PÚBLICO
Pr. Pedro R. Artigas
Igreja Metodista
Há uma pergunta que atravessa os séculos como um sussurro insistente: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus?” E de repente, o cotidiano se ilumina. O ônibus lotado, o escritório cinzento, a rua barulhenta — tudo se torna palco de uma revelação silenciosa: cada ser humano é um templo que respira.
Não de pedra, não de mármore. Um templo feito de carne, de memória, de sonhos. Um templo que se move, que tropeça, que ri. Dentro dele, o Espírito se aninha como chama discreta, como música que não se cala. E o mundo, tão acostumado a medir valores em cifras e aparências, esquece que há uma sacralidade escondida em cada olhar.
O templo é invisível, mas se revela nos gestos. Quando alguém oferece a mão ao caído, o altar se acende. Quando uma palavra de ternura rompe o silêncio, o incenso se espalha. Quando o perdão é concedido, as colunas se erguem mais firmes. E quando o amor se faz presente, o templo inteiro vibra como se fosse coro de anjos.
Mas há dias em que o templo se descuida. As paredes se enchem de pó, as janelas se fecham para a luz. O coração se torna mercado, cheio de vozes, disputas, vaidades. Paulo sabia disso: os coríntios viviam em meio a divisões, e nós também. O templo, tantas vezes, se converte em ruína. E ainda assim, o Espírito permanece, como quem insiste em habitar mesmo entre escombros.
Ser templo é carregar uma dignidade que não se mede. É saber que não somos descartáveis, que não somos engrenagens de uma máquina. Somos morada. Somos espaço sagrado. E isso muda tudo: muda a forma como olhamos para nós mesmos, muda a forma como olhamos para o outro. O vizinho difícil, o estranho na calçada, o amigo distante — todos são templos. E não se profana um templo sem ferir o próprio Deus.
Há uma poesia escondida nesse mistério. A criança que corre na rua, rindo sem motivo, é templo em festa. O idoso que contempla o entardecer, em silêncio, é templo em oração. O trabalhador que volta cansado, mas ainda encontra forças para abraçar os filhos, é templo em sacrifício. Cada vida é liturgia, cada encontro é celebração, cada gesto de bondade é oração.
E talvez seja isso que Paulo queria: que não esquecêssemos. Que, em meio ao barulho das cidades, ao peso das responsabilidades, ao cansaço dos dias, lembrássemos que o Espírito habita em nós. Que há uma chama acesa, mesmo quando não a vemos. Que somos templos, mesmo quando nos sentimos ruínas.
No fim, a pergunta permanece como eco: “Não sabeis vós?” E cada amanhecer responde, com sua luz nova: sim, sabemos. Ou, ao menos, começamos a saber. Porque o templo que respira dentro de nós não se constrói de uma vez. Ele se ergue aos poucos, com cada gesto de amor, com cada escolha de verdade, com cada passo em direção à justiça.
E quando finalmente percebemos, o mundo inteiro se transforma em catedral. O céu é o teto, a terra é o chão, e cada ser humano é coluna viva. O Espírito passeia entre nós como vento suave, lembrando que o divino não mora em edifícios, mas em corações que se abrem. Shalom.
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